Afinal qual é o termo correto - Espumante ou Champanhe?
E será que terei de esperar por uma data festiva - aniversário, passagem de ano, ou casamento para provar um espumante/champanhe?
De facto, parece que a bebida das bolhinhas, que tem um ritual muito particular e engraçado no momento de ser servida, gera alguma controvérsia. Seja pelo facto de ser presença obrigatória na comemoração de algum acontecimento, seja por estar identificada com alguma "pompa e circunstância" revelando o seu estatuto de talismã.
A controvérsia surge logo na origem do Champanhe, nomeadamente a quem se atribui o mérito da plantação das vinhas das quais resultam as magnificas uvas que, através de um processo de vinificação, se elabora a tão afamada bebida, normalmente servida num elegante copo de pé alto e gargalo estreito.
O relevo das façanhas dos romanos e a sua contribuição na plantação das vinhas da região de Champagne-Ardenne, no norte de França, entra em contradição com a existência de alguns documentos que referem o vinho que já por ali se fazia desde à muito tempo. No entanto, uma coisa é certa - a cidade mais importante de Champagne é Reims e é onde está situada a Catedral de Notre Dame de Reims, local onde a maioria dos reis de França foram coroados. E como não poderia deixar de ser, devido à proximidade de vinhas com uma qualidade superior, as celebrações eram regadas com o vinho, o tal das bolinhas, que por alí se fazia à já algum tempo - daí ser o vinho dos reis.
Por influencia, não de uma Catedral, mas de uma Abadia, a igreja também contribuiu para o aprimoramento do Champanhe, tal como o conhecemos hoje em dia.
Realmente a Igreja Católica tinha, em plena Idade Média, uma vasta porção de território em seu domínio, seja pelo facto de os nobres, detentores de terras, doarem os seus domínios à santíssima Igreja antes de morrerem como forma de pagarem pelos seus pecados e garantirem um lugar no céu. Seja por, antes de irem para batalhas ou peregrinações, deixarem em herança as suas posses à Instituição Sagrada para salvaguardarem a sua consciência no caso de padecerem em viagem ou batalha.
Dom Pérignon, monge beneditino na Abadia de Hautvillers, em 1670, dedicou-se ao estudo da produção de Champagne, com o objetivo de o melhorar e, neste sentido, identificou os 5 elementos fundamentais para que esta bebida se aprimorasse até aos dias de hoje. Eles são:
- Misturar uvas de diferentes partes da região, para o harmonizar;
- Como eram as uvas negras, por exemplo Pinot Noir, que predominavam na região, resolveu fazer os processos de separação e prensagem das uvas em separado, obtendo exclusivamente o sumo de uva de cor cristalina;
- O desenvolvimento de garrafas de vidro mais espessas para aguentar de forma mais eficiente a pressão resultante da segunda fermentação;
- A utilização de rolhas de cortiça, em substituição de pauzinhos de cânhamo humedecidos com azeite;
- A construção de adegas profundas, em subsolo, para garantir o repouso e envelhecimento do Champanhe com as condições perfeitas - escuridão e temperatura fresca constante.
A região de Champagne foi delimitada em 1927 e está protegida pela legislação por se tratar de uma AOC, que é a Denominação de Origem mais rigorosa em França. O que faz com que todos os vinhos com a designação de Champagne tenham de ser originários, obrigatoriamente, desta região, caso contrario, constitui uma fraude e é punível em tribunal arbitral, sujeito a um pagamento de indemnização ao produtor lesado.
Como tal, todos os vinhos que são produzidos fora da região de
Champagne, segundo o
método champenoise, são denominados
Espumantes.
Em Portugal, os pioneiros na produção de Espumante surgiram, ainda no séc. XIX, no Douro, na Bairrada e em Castelo de Vide. Ainda que hoje a produção esteja concentrada maioritariamente
em Lamego (Raposeira e Murganheira) e na Bairrada (Aliança, S. João, S. Domingos, Montanha, Messias e Primavera)
Atualmente a produção de Espumante é pratica difundida por todo o território nacional, acompanhando a desmistificação de que o Espumante é só para ocasiões festivas e para quem têm posses económicas. Realmente, tal como existem Espumantes para acompanhar todos os tipos de iguarias ou momentos, também existe uma amplitude de preços que permite a aquisição desta tipologia de bebida para todos os orçamentos.
Prova de que os hábitos não são para ser seguidos à regra e de que é importante experimentar para descobrir novos sabores que podem resultar em combinações perfeitas e apostas ganhas são os seguintes factos:
- Tradicionalmente, em França, serve-se o Champagne como aperitivo, ou seja antes da refeição. Ainda que este possa acompanhar a entrada, parto principal e a sobremesa, não havendo nada de errado nisso;
- No entanto, no Élysée, palácio oficial do governo francês, o champanhe é servido depois dos jantares com representantes de outros países, ou seja, durante a sobremesa.